A Estratégia da Espiritualidade



É fora de questão que o ano de 1848 foi atípico em se tratando da história da Humanidade; tanto na dimensão visível, quanto na invisível. A importância dos fatos que se sucederam em meados do século 19 não foi completamente avaliada; particularmente, em relação às inevitáveis interações que se deram entre os dois planos.

Depois de seguidas mudanças na maneira de pensar e agir – que frutificaram por meio da Renascença, Reforma Protestante e Iluminismo –; aqui na Terra, no plano da materialidade, mais precisamente na Europa, ocorria a chamada ‘Primavera dos Povos’.

Apesar da equivocada idéia a que o nome induz, aquele não foi um momento de tranquilidade, e sim um período de seguidas revoluções, que se deu em meados do primeiro semestre, quando ocorre a primavera no hemisfério norte.

O movimento contou com a participação de operários, camponeses, artesãos e intelectuais socialistas, manifestando suas insatisfações ante os excessos adotados durante a fase inicial do capitalismo-industrial. As insatisfações daquelas classes seriam sintetizadas por Karl Heinrich Marx e Friedrich Engels, naquele mesmo ano, por meio de O Manifesto Comunista.

Distante dali, no outro lado do Atlântico, os Estados Unidos da América passavam quase ao largo das revoluções sociais.

Preocupados com sua expansão territorial, depois de consolidada sua independência, empreendiam a ‘conquista do oeste’; na tentativa de ocupar a maior área possível, dando forma geográfica a sua pátria.

Como precisavam de um significativo número de colonos, admitiam pessoas oriundas dos mais diversos países, que traziam consigo suas culturas, suas religiões. Por este motivo, ocorria ali uma tolerância religiosa até então sem precedentes na história humana.

Enquanto isto, os Espíritos Superiores, comprometidos com a evolução espiritual humana, engendravam alternativas que pudessem possibilitar aos homens uma melhor compreensão da questão espiritual.

O momento recomendava medidas urgentes; as idéias materialistas e a descrença em Deus e no mundo espiritual tomavam uma nova e preocupante dimensão.

Para tanto, os espíritos utilizariam o serviço de diversos médiuns como expediente para revelar as verdades espirituais aos encarnados; o recurso era adequado e eficiente, pois seria impossível impedir seu avanço, o que poderia acontecer caso a tarefa fosse toda delegada a uns poucos medianeiros.

Por razões inequívocas, o lugar escolhido foi os Estados Unidos da América; onde os acontecimentos mediúnicos poderiam se dar sem grandes obstáculos, aproveitando a significativa liberdade de expressão.

Então, sem qualquer aviso, os ‘mortos despertaram os vivos’ no início da estação primaveril, em 1848, manifestando-se em toda parte, de forma contundente, nos mais diversos lares norte-americanos, por meio de pessoas comuns, como as irmãs Fox, os irmãos Davenport, a família Koons.

Era a ‘Primavera dos Espíritos’.

Esta primavera, diferentemente de sua contemporânea, guardava real consonância com o nome, já que significava o florescimento pacífico das verdades que até então permaneciam ocultas.

No dizer de Arthur Conan Doyle, os fenômenos mediúnicos irromperam na jovem nação à maneira de uma ‘nuvem psíquica’, habilmente controlada pelos Espíritos Superiores; para depois, ser direcionada para a Europa, onde encontraria personagens previamente preparados para lidar com tais revelações – a exemplo de Allan Kardec.

Ambas as primaveras marcaram profundamente as gerações que se seguiram.

A ‘dos povos’, apesar de não ter eliminado as drásticas diferenças sociais, iniciou um diálogo interclasses que continua até os dias de hoje; tendo ainda muitas barreiras a transpor.

A ‘dos espíritos’, que culminou com o advento do Espiritismo na França, pode não ter instaurado definitivamente a idade da regeneração na Terra; porém, semeou dúvidas entre os céticos e os ateus, disseminando por toda parte noções de Deus, da sobrevivência da alma à morte do corpo físico, da comunicabilidade dos mortos...

À sua maneira, a ‘primavera dos povos’ obteve seus frutos por meio do sangue que regou o solo europeu; por sua vez, a ‘primavera dos espíritos’, alcançou seus resultados em meio aos ‘raps’ – batidas – e ‘mesas girantes e falantes’, que foram difundidas mundo afora, convenientemente controladas pelos espíritos manifestantes.

Ao final, ficou a convicção de que, embora ambos os movimentos fossem importantes para a Humanidade; o promovido pelos espíritos foi o que nos legou a certeza de que um futuro melhor é possível; e pode ser construído com a perseverança no Bem, e depende principalmente de nosso trabalho.

Autor: Licurgo Soares de Lacerda Filho
Fonte: Correio Fraterno
CELESFA

Centro Espírita Luz da Esperança de São Francisco de Assis

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