Por Sergio Felipe de Oliveira*
A questão da vida após a morte, a sobrevivência do espírito
após a morte do corpo biológico, sendo este a sede da emoção, da
personalidade, da identidade de uma pessoa na hipótese do continuum da
vida, a comunicabilidade entre a dimensão espiritual e o plano biológico
nos estados de transe, na mediunidade, o entendimento do cérebro como o
transdutor da alma e não como foco produtor do pensamento, são questões
em aberto no território da Ciência.
A visão materialista entende que a pessoa é o corpo biológico,
portanto a vida termina com a morte do corpo. Esta é uma hipótese que
não foi comprovada pela Ciência. Assim, tanto a visão espírita proposta
por Allan Kardec, quanto à visão organicista-materialista são hipóteses
abertas à investigação pela Ciência Oficial.
Afirmar o materialismo como realidade existencial é hoje uma
hipótese e não uma confirmação cientifica. Um cientista que se diz
materialista fala em nome próprio e não em nome da Ciência.
A Ciência
Oficial está aberta à investigação das hipóteses espíritas tanto quanto
as hipóteses materialistas. Assim é que as universidades americanas como
a Universidade de Harvard (Mind-body Institut), a Universidade de
Virginia (Pesquisa sobre reencarnação), a Universidade do Arizona
(Laboratório de pesquisa sobre vida após a morte) www.veritas.arizona.edu
e por extensão as 50 maiores faculdades de medicina dos EUA incluem em
seus currículos de graduação e pós-graduação a Disciplina Medicina e
Espiritualidade, segundo JAMA - Journal of American Medical Association.
A OMS _ Organização Mundial de Saúde, passa a admitir o sistema
espiritual na caracterização de saúde e qualidade de vida como
observamos no protocolo do WHOQOL-100 - www.ufrgs.br/psiq/whoqol1.html - (domínio VI Aspectos espirituais, religião e crenças pessoais na tabela 2 – Domínios e facetas do WHOQOL).
Também, o CID-10, Código Internacional de Doenças, item F.44.3 -
Estados de Transe e Possessão - configura como diagnóstico médico e
qualifica o transe patológico (mediunidade/doença) quando o individuo
não tem controle sobre o fenômeno, ocorrendo de forma involuntária e não
desejada. Mas não é considerada doença o estado de transe
(mediunidade/saúde) sob domínio da pessoa em seu contexto cultural ou
religioso - www.datasus.gov.br/cid10/v2008/cid10.htm.
O DSM-IV, Casos Clínicos da Associação Americana de
Psiquiatria, chega a ser mais objetivo utilizando o termo “possessão por
espíritos”, colocando que consiste num transtorno dissociativo, com a
ressalva de que “é o termo mais próximo deste intrigante diagnóstico”,
demonstrando objetivamente que o entendimento do fenômeno ainda está em
aberto - www.psych.org.
De fato, o estado de transe é um estado dissociativo
(conversão) podendo configurar-se como Transtorno Dissociativo nos casos
patológicos (mediunidade/doença) porque a interferência espiritual
naturalmente provoca dissociação da mente. Portanto, considerar o estado
de transe como transtorno dissociativo ou conversivo não exclui a
hipótese de que seja um fenômeno espirítico.
Os estados conversivos ou dissociativos foram amplamente
estudados no Hospital Salpêtrière de Paris, na escola do Prof. Charcot,
onde Freud estudou. Em seus estudos alguns pesquisadores abordaram a
hipótese espirítica (Mediunidade) como entendimento etiológico dos
estados conversivos. Um deles foi Carl Gustav Jung que no segundo
capítulo do primeiro volume de Obras Completas (Ed. Vozes) estuda o
médium espírita.
Também na mesma escola os médicos Gustav Geley e Albert
Scherenck-Notzing abordaram formalmente a hipótese espírita como valida
em medicina (Scherenck-Notzing em Le Phenomene Physique de La Mediunite
e Gustav Geley em O Ser Subconsciente). Com isso, mesmo o termo
Conversão Histérica enquanto fórmula estritamente anímica, como proposto
por Freud, não foi e não é um consenso em medicina.
Como médico participo da hipótese espírita dos estados de
transe e possessão e também no entendimento do sistema espiritual
abordado pelo protocolo de Qualidade de Vida da OMS, procurando
pesquisar as possibilidades da hipótese espiritual no processo de saúde e
doença. Esta argumentação frente à abertura que a Medicina Oficial está
dando para o entendimento do sistema espiritual permitiu que meu
protocolo de pesquisa no estudo de 120 pacientes abordados segundo a
óptica bio-psico-socio-espiritual fosse aprovado oficialmente junto à
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, e esta pesquisa já
está sendo desenvolvida.
Julgo que a Medicina e a Ciência nas universidades precisam
criar institutos e departamentos com todos os recursos para pesquisa
cientifica, a fim de estudar a hipótese espiritual. É para este ideal
que procuro contribuir para que esta questão não fique pautada em cima
de opiniões pessoais.
É inequívoco que a Medicina e a Ciência estão abertas para esta hipótese.
* médico formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São
Paulo. Anatomista pelo Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade
de São Paulo com área de concentração em Neurociências e Neuroanatomia
Ultraestrutural. Mestre em Ciências pela USP. Coordena a Disciplina
Optativa Medicina e Espiritualidade da FMUSP enquadrada no item práticas
médicas para graduandos de medicina
Fonte: Uniespirito
Tags:
Artigos Diversos