Entevista
do Dr. Carlos Eduardo Accioly Durgante para a VOICE.
O Dr.
Carlos Eduardo Accioly Durgante é casado com Ana Claudia Moro
Gonçalves, tem dois filhos: Lucas Chagas Durgante e Bernardo Gonçalves
Durgante.
Médico Geriatra,
pós-graduado em Geriatria e Gerontologia pelo IGG/PUCRS, especialista em Medicina Interna
pela UFSM, especialista em Medicina do Trabalho pela Faculdade de Medicina de
Itajubá/MG, escritor e professor de pós-graduação do Curso de Especialização em
Saúde e Espiritualidade das Faculdades Monteiro Lobato, articulista da Folha
Espírita, trabalhador da Sociedade Espírita Bezerra de Menezes. Autor dos
livros: Planejando o Futuro; Fé na Ciência; Velhice: culpada ou inocente? e
Luz, Câmera…Ação! A Vida Entra em Cena.
Dr. Durgante afirma
que adora sua vida porque ama seus filhos e esposa e tem um prazer imenso em
trabalhar nas áreas de envelhecimento e espiritualidade e é muito grato ao
Criador por ter como filosofia de vida os princípios morais e os ensinamentos
dessa doutrina consoladora que é o Espiritismo.
Qual é a historia do Dr.
Carlos?
Tão simples como
deve ser a história de todos nós, não podendo faltar nela personagens do bem!
Sou natural de Santa Maria e com um vínculo muito afetivo a uma outra “santa”,
a Santa Rosa. Aqui passei momentos marcantes da minha infância e adolescência.
Meu avô materno foi juiz aqui em Santa Rosa. Tem até uma rua com o nome dele:
Pretextato Accioly (Rua Dr. Accioly). Moro em Porto Alegre desde
1991.
Qual sua satisfação de fazer
parte da AMERGS?
A Associação
médico-espírita do Rio Grande do Sul, que faz parte da AME do Brasil, é uma
associação muito atuante na seara espírita e uma via muito importante no estudo
da doutrina e sua aplicabilidade na prática médica na busca de uma medicina
mais humanizada e mais integral.
Sua opinião sobre eutanásia e
distanasia:
Eutanásia: é a
prática pela qual se abrevia a vida de uma pessoa com doença incurável de
maneira controlada e assistida. Pode ser ativa quando é planejada e negociada
entre a pessoa enferma e o profissional. Na passiva, a morte não é decidida deliberadamente
e com o passar do tempo e a interrupção dos tratamentos, o paciente vem a
falecer. Já Distanásia seria o ato de prolongar a vida de uma pessoa com doença
incurável através de meios artificiais, e recursos médicos exagerados e
extraordinários, prolongando o sofrimento do paciente. Nós médicos da AME
Brasil somos contra qualquer tipo de eutanásia (ativa, passiva, voluntária,
suicídio assistido) e não concordamos com a distanásia. Somos favoráveis à
Ortotanásia que seria a ocorrência da morte no seu tempo certo sem o seu
aceleramento e nem o seu prolongamento exagerado ou desproporcionado. A prática
da ortotanásia leva à humanização da prática médica pelos profissionais da área
da saúde, e propicia a prática dos cuidados paliativos, bem como a atuação dos
cuidadores de uma forma dignificante.
Em um idoso que enfrenta uma
doença prolongada, esse sofrimento físico pode contribuir para a evolução
espiritual?
Chico Xavier
afirmava que “Para o homem da Terra, a saúde pode significar o equilíbrio
perfeito dos órgãos materiais; para o plano espiritual, todavia, a saúde é a
perfeita harmonia da alma, para a obtenção da qual, muitas vezes, há
necessidade da contribuição preciosa das moléstias e deficiências transitórias
terrenas”. Se a forma que escolhermos para compreender as enfermidades humanas
se assemelhar muito a essa visão espiritual, a doença realizaria um papel
estimulador no processo evolutivo do ser humano. Ela ainda teria uma função
disciplinadora e reguladora para o reequilíbrio do indivíduo, quando esse tiver
sido rompido, e certamente contribuiria para a evolução desse espírito.
A fé faz bem à saúde?
O envolvimento
religioso ou espiritual, independentemente do credo, seja ele evangélico,
católico, budista, espírita, ou qualquer outro, desde que não gere conflitos
éticos e morais a quem o professa, é capaz de promover saúde tanto física,
quanto mental. Inúmeros estudos científicos têm revelado que as pessoas em
geral, e os idosos em especial, mais espiritualizados ou com um envolvimento
religioso mais intenso, têm mais saúde global e uma qualidade de vida mais
satisfatória.
Qual a dieta espiritual equilibrada?
Essa “dieta” ou
“receita” espiritual equilibrada seria exatamente o que respondi na pergunta
anterior. É o que denominamos de Religiosidade Intrínseca, que ocorre com as
pessoas que encontram sua motivação na crença que professam. Vivem em harmonia com
as orientações e aconselhamentos dela e procuram realizar esforços pessoais
para se melhorarem como pessoas, tendo como modelo os ensinamentos morais
pregados pelo Cristo.
Envelhecer é mais uma
oportunidade de crescimento e de aperfeiçoamento como seres espirituais que
somos?
Sem dúvida alguma
que sim, a necessidade da vivência da velhice no momento atual da nossa
existência no planeta terra, coincide com a também necessidade desse orbe
deixar de ser um planeta em que ainda prevalece o sofrimento, a dor, as
desgraças, as pragas da era moderna que são o egoísmo, a ganância, as drogas, a
delinquência, o terrorismo, entre outros e passar a ser um planeta de
regeneração. Não estamos vivendo mais tempo (atualmente a expectativa média de
vida no Brasil é de 74 anos), sem uma razão nobre. A oportunidade da vivência
da velhice pode nos propiciar mais uma chance para um olhar interior, um olhar
para o todo da existência. É um estágio indispensável à Completude da Vida!
Um envelhecimento bem sucedido
pode ser preparado? Existiria uma “arte do envelhecer”?
Segundo estudiosos
da área de Envelhecimento bem-sucedido, esse termo significa um estado ou uma
situação em que a pessoa, além de não apresentar doença, possui baixo risco em
desenvolvê-la; apresenta altos índices de funcionalidade física e mental com
baixa probabilidade de doença e incapacidades; e uma alta capacidade física
funcional e cognitiva e um engajamento ativo na vida. No momento atual em que
vivemos, é possível, sim, que muitas pessoas envelheçam com essas
características, mas para que isso se processe, há necessidade de um
planejamento, de uma “arte de envelhecer” e essa preparação se inicia desde
muito cedo na vida, desde antes da meia-idade. Um estudo científico muito
interessante publicado em 2010 revelou que: “os comportamentos ou atitudes de
vida na meia-idade têm significativa e substancial associação com maior
longevidade , com um período maior de vida livre de doenças cardiovasculares,
com uma compressão dessas e das doenças crônico-degenerativas para mais próximo
do fim da vida, com uma maior qualidade de vida e com mais baixos custos com os
cuidados médicos na velhice.” O segredo está em começar a se cuidar bem cedo!
O número de idosos no planeta
triplicará nos próximos 50 anos, podendo-se afirmar com segurança que o planeta
será dominado pelos anciãos. O mundo esta preparado para isso? Já estamos
comprometidos com essa realidade, ou se faz necessária uma revolução no pensamento?
As estimativas de
crescimento dessa faixa etária estão aí para que se faça esse alerta. Já
existem mais idosos no mundo que crianças de até 5 anos de idade e em algumas
décadas eles serão mais numerosos que jovens de até 15 anos. Se o mundo ainda
não está preparado, deverá fazê-lo o quanto antes. Essa revolução “não-armada”
do pensamento e das mentes humanas, precisa ocorrer em todas as sociedades,
especialmente na dos países ditos emergentes, como o Brasil.
Todos temos responsabilidades
social para com os velhos de nossa sociedade, amanha haveremos de querer que
outros tenham para conosco esse mesmo olhar, e para isso devemos nos preparar.
Na sua experiência, o que os jovens estão pensando sobre isso?
O que estão pensando
eu ainda não sei, mas devem começar a pensar em suas velhices. Os dados de
estudos estatísticos populacionais para países como o nosso revelam que quase
70% dos homens e em torno de 80% da mulheres , desde que em condições razoáveis
a boas de saúde e sem um prognóstico de vida reduzido por alguma doença grave,
chegarão aos 60 anos facilmente e ainda viverão um bom tempo! Então fica bem
claro que a construção de uma velhice bem-sucedida, com poucas limitações
físicas e um ajustamento psicológico e espiritual às transformações que surgirão
com a velhice, será determinante para que ela venha a ser um período de vida
generoso. E essa construção é por toda uma vida.
A velhice está implícita na
juventude. Não é só o velho que envelhece. É durante a vida inteira que
envelhecemos. Do ponto de visita espiritual, o que o senhor diria sobre isso
aos jovens?
Veja um dos
conceitos de envelhecimento: é a extensão lógica do fenômeno fisiológico
iniciado com o nascimento e o desenvolvimento e que se encerra com a morte. O
envelhecimento biológico, psicológico e espiritual é uma construção, uma
edificação que se processa ao longo do tempo. Poderá ou não ser bem-sucedido. O
jovem de hoje deve ter em mente que estamos vivendo um fenômeno do
envelhecimento populacional global, o que significa que esse jovem tem grandes
chances de chegar à terceira idade, e a questão crucial é em que condições
chegará lá. Se esses que hoje são jovens, adotarem atitudes e comportamentos
inadequados e prejudiciais à saúde como um todo, poderão sentenciar de uma
forma negativa e em definitivo a sua velhice em todas as suas dimensões:
física, psicológica e espiritual.
O que falta para que a
sociedade e a família entendam o envelhecimento de seus integrantes como uma
evolução e não como um peso?
Essa é uma questão
muito delicada, com sérias implicações a respeito do que denominamos de
Compromissos Morais. O que falta é o gesto digno de valorização a esse ciclo da
vida, isso sim! Divaldo Franco afirma que “o grupo familiar é santuário de
renovação coletiva, onde todos os membros se encontram para crescer juntos,
reconciliar-se, aprender a servir e ampliar a capacidade de amar. (…) Reunidos
novamente, devem se juntar no processo de libertação em que se encontram
comprometidos.” O grande e iluminado médium Chico Xavier já dizia que
“frequentemente o Espírito renasce no lar que precisa, geralmente no mesmo meio
em que já viveu, estabelecendo de novo relações com as mesmas pessoas, a fim de
reparar o mal que lhes haja feito”. A Espiritualidade Maior nos reúne
novamente, mas muitas vezes ignoramos essa lei divina e deixamos de cumprir com
os nossos compromissos morais em dignificar essa fase da existência.
O que não abre mãos na sua
vida?
Da convivência
familiar e do aprendizado que o Espiritismo tem me proporcionado como filosofia
de vida.
Frase preferida:
Luz e Paz! Curta e
com um poder imenso. Uma via de mão dupla. Luz e Paz para mim e para os irmãos
de caminhada evolutiva.
O meu lugar do mundo é:
Minha casa com minha
família, não há outro lugar melhor para se estar!
Uma mensagem para a nossa
comunidade:
Nas palavras de Léon
Denis: “Sede irmãos, ajudai-vos, sustentai-vos na vossa marcha coletiva. Vosso
alvo é mais elevado que o desta vida material e transitória, pois consiste
nesse futuro espiritual que deve reunir-vos todos como membros de uma só
família, ao abrigo de inquietações, de necessidades e males inumeráveis.
Procurai portanto merecê-los por vossos esforços e trabalhos”.
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Artigos Espíritas