Raul Brasil nasceu no dia 03 de maio de 1889, em Mogi das Cruzes, estado de São Paulo. Lá, se formou professor pela Escola Normal da Praça da República; manteve um curso noturno destinado à alfabetização de adultos e preparou candidatos para exames de admissão em concursos públicos.
Foi professor em Poá até ser transferido para Suzano, como diretor do Primeiro Grupo Escolar. Em 1926 foi para Guararema como professor e diretor do Grupo Escolar das Escolas Reunidas, o primeiro da cidade.
Correndo em suas veias o sangue de poeta e literato, deixou poesias, contos e trabalhos literários. Raul colaborou de forma expressiva com os jornais da época.
Raul faleceu em 24 de agosto de 1940, em Mogi das Cruzes, aos 51 anos. Em sua homenagem, o governo do estado batizou com seu nome uma escola pública na cidade de Suzano. A mesma onde dois ex-alunos do colégio, mataram a tiros estudantes e funcionários.
Após o massacre, um dos assassinos atirou no comparsa e, então, se suicidou
Uma combinação explosiva
Por trás desta tragédia paulista, mas que atinge a todos brasileiros, existe uma combinação de fatores altamente explosivos. Entre eles, uma aparente incapacidade do homem moderno de compreender o espírito de sociedade.
Estando a evolução do homem subordinada à vida em sociedade, os atos de violência surgem do conflito entre pessoas. Esse contato diário com os atos extremados do ser humano torna a todos mais insensíveis. Desconsideramos as pequenas atitudes de violência. E violência exprime todo pensamento que exteriorize um sentimento contrário à lei do amor e da caridade. Pensamento complementado ou não por palavras e ações.
Diante de um mundo onde o mal parece sair vitorioso, fica fácil extravasar nossa violência de forma direta ou indireta. Um exemplo muito atual disso é conhecido como bullying. O termo inglês descreve atos de violência física (direta) ou psicológica (indireta), intencionais e repetidos. São praticados por um indivíduo (bully ou valentão) ou grupo de indivíduos (bullies).
Da mesma forma que ocorre em escolas, o bullying também se manifesta em qualquer contexto onde humanos interajam. Até mesmo em família.
Uma teoria absurda
Por mais estapafúrdio que possa parecer, alguns incautos (ou espertinhos) viram neste comportamento agressivo um “novo conceito de sobrevivência”. Apresentaram a absurda teoria das ‘crianças índigo’ baseados no item 27, capítulo 18, de A gênesede Allan Kardec.
Intitulado “A geração nova”, o Codificador fala do período de transição da Terra cujos habitantes irão modificar suas disposições morais. Ou seja, uma geração com o sentimento inato do bem, capaz de resolver conflitos, ao invés de incitá-los. Uma geração movida pela paciência, tolerância e solidariedade. E não pela violência, agressividade ou prepotência. Como resultado, espíritos que praticam o mal pelo mal, “serão excluídos porque (…) constituiriam obstáculo ao progresso”. Consequentemente, “irão expiar o endurecimento de seus corações, uns em mundos inferiores, outros em raças terrestres ainda atrasadas (…). Substitui-los-ão espíritos melhores, que farão reinem em seu seio a justiça, a paz e a fraternidade”.
Para Kardec, estamos assistindo a partida desta geração “perdida” e a chegada da nova, tornando-se fácil distinguirmos uma da outra, pela “natureza das disposições morais, porém, sobretudo das disposições intuitivas e inatas”. Em nenhum momento, portanto, o espiritismo valida o comportamento temperamental explosivo, seja de um índigo ou seja de um bully.
“Entretanto”, diz Kardec no capítulo 3, “o mal existe e tem uma causa”. E destaca no item 6: “os males mais numerosos são os que o homem cria pelos seus vícios, os que provêm do seu orgulho, do seu egoísmo, da sua ambição, da sua cupidez, de seus excessos em tudo. Aí a causa das guerras e das calamidades, das dissensões, das injustiças, da opressão do fraco pelo forte, da maior parte, afinal, das enfermidades”.
A violência é ancestral
Um dos maiores especialistas mundiais no estudo da civilidade, o italiano Piero Massimo Forni, afirmou recentemente em seu livro Escolhendo civilidade: 25 regras de conduta atenciosa, que “se melhorarmos a capacidade de nos relacionar, teremos menos brigas, menos estresse e, consequentemente, menos pessoas doentes”.
Em 1801, o médico francês Philippe Pinel, iniciador do tratamento médico da loucura, examinou um homem nobre que jogara sua esposa em um poço e constatou que o ele não apresentava nenhuma doença mental.
Sigmund Freud, criador da psicanálise, estudou o comportamento irracional do indivíduo. Nos dias de hoje, estudiosos tentam associar a origem de certos comportamentos a causas genéticas e ambientais (o temperamento, herança genética, pouco alterado pelo ambiente, interage com o caráter).
O que todos eles descobriram? Que a violência é um comportamento ancestral. Segundo o estudo, a violência vêm sendo utilizada ao longo da história humana, desde os tempos das cavernas. E constituindo-se às vezes como o melhor jeito de se conseguir alguma coisa, consequentemente ficou “impregnada” em nossos genes.
Mas não deixa de ser violência. É sempre o mal em ação, ainda mesmo quando pareça construir um atalho para o bem. Assim, os mesmos estudiosos acreditam que o melhor para a raça humana seja a prática do altruísmo, tendo como meta a irrestrita felicidade global, enquanto contestam a validade de uma sociedade voltada tão somente para o consumo material.
O maior obstáculo ao progresso moral
Isto não é novidade para os espíritas. Segundo o Espírito Verdade (item 785 de O livro dos espíritos), o maior obstáculo ao progresso moral é o orgulho e o egoísmo. Ambos caracterizam o sentimento ainda muito imperfeito que aliado à ignorância das leis naturais e seus mecanismos de atuação, originam as ações contrárias a essas mesmas leis constituindo a violência. Devemos, consequentemente, combater a nossa violência interior em todas as suas formas e intensidades. Muitas vezes achamos que não fazemos mal a ninguém. Porém, nossa impaciência, irritação e nossos pensamentos infelizes agridem ao próximo. Também agredimos a nós próprios diariamente, através do consumo de fumo, bebidas, remédios e alimentos inadequados ou exagerados, atacando nosso campo emocional e psíquico.
Sempre contemporâneo, apesar de seus mais de 160 anos de vida e de ser constantemente exposto a conceitos absurdos por ‘bullies falsos profetas’, o espiritismo continua sendo um ótimo guia de boa convivência, como resultado por seguir sem afetação os ensinamentos daquele que, um dia, afirmou que os brandos são bem-aventurados, pois possuirão a Terra. Ou seja, certamente a justiça será feita, o fraco e o pacífico já não serão explorados nem esmagados pelo forte e pelo violento. Devido a lei do progresso e acima de tudo pela promessa de Jesus, a Terra se tornará mundo ditoso, por efeito do afastamento dos maus.
O conhecimento espírita oferece diversas medidas preventivas para evitar que o sofrimento surja em consequência da lei de ação e reação. Se o fato de se possuir algum conhecimento das leis naturais não assegura a ninguém manter um comportamento equilibrado, tal conhecimento, porém, colabora com a educação da não violência em nossas crianças, por exemplo. Como alerta o pediatra Richard Tremblay, da Universidade de Montreal, na Revista Science: “Não é saber como as crianças aprendem a agredir. É saber como elas aprendem a não agredir”.