Renovai-vos pelo espírito no vosso modo de sentir.1 Paulo (Efésios, 4:23.)
O Livro dos Espíritos 2 , em sua questão 918, disserta sobre os Caracteres do Homem de Bem, e a resposta dos Espíritos a Kardec dá conta de que para se elevar o homem deve em todos os seus atos representara Lei de Deus além de compreender a vida espiritual.
Ao iniciar o seu “Paulo e Estevão”3 , Emmanuel avisa em breve prefácio que, o que pretende, não é fazer uma homenagem ao “grande trabalhador do Evangelho”, mas traduzir para a vida do apóstolo, o papel humano que ilustra o combate de Paulo de Tarso, e por meio de suas lutas e testemunhos mostrar o esforço do outrora Doutor do Sinédrio para seguir, transformado, os passos do Mestre Jesus.
O texto de Emmanuel nos oferece a possibilidade de visualizar as transformações ocorridas no mundo retratado do pós-advento do Cristo de Deus – Jesus de Nazaré, e sua intenção maior começa a aparecer nesta “Breve notícia” que é o título do prefácio do autor espiritual.
Ali, ele ressalta que provavelmente será criticado por ser o autor de mais um livro sobre Paulo e se desculpa por não ser o autor de uma biografia romanceada, mas por querer aquecer os corações com seu intento literário.
Isto o faz chamar a atenção para aqueles que, bem intencionados, verão seu texto com os olhos do coração e não na afinação de dogmas ontológicos, e avisa: “(...) este livro modesto, foi grafado por um Espírito para os que vivam em espírito, (...)”, e recorda também que se “aletra mata, o espírito vivifica”4 .
O autor espiritual mostra desde essas primeiras linhas o seu carinho no trato com o texto e, principalmente, o amor e a admiração pelo apóstolo, dando voz ao Convertido de Damasco ao mostrar o seu amor e dedicação à causa cristã.
Para Emmanuel, Paulo é o exemplo, não de uma predestinação, mas modelo de um trabalho do Mais Alto no desenho deste Vaso precioso, que recebe em seu bojo a Boa Nova do Cristo.
Sua caminhada se inicia com uma queda, é pela dor que chega ao Mestre, primeiro na revelação dos laços fraternos que unem sua noiva Abigail a Estevão, depois na perda da mulher amada e, mais tarde em sua epifania às portas da cidade síria.
As palavras de Emmanuel nos fazem seguir os momentos e observarmos a preparação de Paulo para o Ministério Divino: “(...) é que ele ouviu, negou-se a si mesmo, arrependeu-se, tomou a cruz e seguiu o Cristo até o fim de suas tarefas materiais”5 .
No encontro do ainda Saulo com Ananias – acontecimento que reitera sua conversão e marca o início de sua transformação, a alegria interior do futuro apóstolo é notada pelo ancião. A água do batismo de Paulo são suas lágrimas e a luz vem à sua alma trazida pelas mãos de Ananias, é neste segundo momento que o recém Convertido, aquele que atravessara o deserto para encontrar Jesus – oferece aos santos serviços do Cristo os seus olhos recuperados.
Quantos desertos foram, desde então, construídos na secura da descrença neste Deus magnânimo, justo e bom; deste Cristo amoroso e modelar. Quantas lágrimas e cegueiras foram descritas pelo homem e que trazem as provas da escolha por portas largas demais. Nem sempre foram encontrados os Ananias, mas o Cristo Jesus – novo traje da alma de Saulo e de seu amor à humanidade, sempre esteve ali esperando por nós, que atravessamos sedentos as longas distâncias que nos transformarão de pasto seco à lavoura do Senhor, como afirma Paulo em I Coríntios, 3:9 – “(...) vós sois lavoura de Deus e edifício de Deus”.
Por Lívia Guimarães, para o Jornal Espirita Mineiro
1 - XAVIER, Francisco C. Fonte Viva. 36ª ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira.
2 - Kardec, Allan. Livro dos Espíritos. Trad.Guillon Ribeiro. 80. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 1998
3 - XAVIER, Francisco C. Paulo e Estevão. Psicografia de Emmanuel. 24ª. Ed: Rio de Janeiro Federação Espírita Brasileira, 1987
4 - Emmanuel “Breve Notícia”, em Paulo e Estevão.
5 - Id.ibidem