O escritor suíço Denis de Rougemont, um arguto defensor da unidade européia, e, especialmente, um estudioso da ocidentalidade, disse algo que inspirou muitos discursos políticos:
A decadência de uma sociedade começa quando o homem pergunta a si próprio: “O que irá acontecer?”, em vez de inquirir: “O que posso eu fazer?”
São posturas muito diferentes perante a vida.
O filósofo brasileiro Mário Sergio Cortella, ao analisar a questão com maior profundidade, afirma:
A decadência, seja numa sociedade mais ampla ou outras instâncias, como a família, trabalho, etc. principia quando o imperativo ético da ação é substituído pela acomodação e pela espera desalentada.
Muitos, na sociedade moderna, estamos nos acostumando rapidamente com alguns desvios que parecem fatais e inexoravelmente presentes, como se fizessem parte da vida.
Assim, nos acostumamos com a violência, com o desemprego, fome, corrupção e outros.
É a prostração como hábito! – exclama o filósofo.
Como se um conveniente pensar estampado nos rostos e nas palavras disfarçasse uma suposta impotência individual, mas, que no fundo, é egonarcisismo indiretamente conivente.
Tão confortável assim pensar...
Confortável e extremamente perigoso.
Felizmente a esperança ainda existe.
Porém não confundamos a esperança do verbo esperançar, com a esperança do verbo esperar – como sugere Paulo Freire.
Esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é construir, é não desistir!
É levar adiante, é nos juntar com outros para fazer de outro modo.
Pode-se ver claramente que a esperança do verbo esperançar é dinâmica, enquanto a outra, é estática, congelada, por vezes covarde...
A esperança nos convida a pensar:
Violência? O que posso eu fazer?
Desemprego? O que posso eu fazer?
Fome? O que posso eu fazer?
Corrupção? O que posso eu fazer?
Sempre teremos o que fazer. Sempre teremos uma contribuição a dar, nem que seja pelo nosso exemplo de agir no bem nas pequenas questões do dia-a-dia.
Todos devemos nos perguntar: O que estamos fazendo por uma sociedade melhor? Qual está sendo a nossa contribuição?
O que podemos fazer a mais para ajudar?
Não nos é pedido em demasia, pois muitos fazendo um pouco que seja, já gera transformações, gera movimentos, revoluções silenciosas...
Não se faz necessário muito, apenas não ceder à acomodação viciante, à indiferença paralisante, à alienação mortificadora.
O que posso eu fazer? O que você pode fazer para melhorar o mundo?
* * *
René Descartes, em sua obra As paixões da alma, afirma que a vontade é tão livre por natureza que jamais pode ser coagida.
Precisamos deixar nascer a vontade de uma vida melhor, e guiá-la nos primeiros passos da ação todos os dias...
Redação do Momento Espírita com base no cap. A resignação como cumplicidade, do livro Não nascemos prontos – provocações filosóficas, de Mário Sérgio Cortella, ed. Vozes e em citação do livro As paixões da alma – Dicionário filosófico de citações, de René Descartes, ed. Martins Fontes.