Opção pela ignorância


De algum tempo para cá temos notado uma certa dificuldade em se estender qualquer conversa séria quando se trata de assuntos relacionados à política, em seu sentido amplo, aos problemas sociais, econômicos, culturais, científicos e até mesmo éticos.
Pode-se notar isso até mesmo nos programas de TV.

Dessa observação ressalta a resistência de muitas pessoas em encarar a verdade e a realidade de frente, como se soubessem de antemão que o desvelamento da verdade trouxesse consigo um certo desconforto interior e alguma responsabilidade diante dos acontecimentos. Curioso sinal dos nossos tempos.

Será que o antiintelectualismo reinante é decorrência da aculturação norte-americana sobre a América Latina, em especial sobre o Brasil, ou o fenômeno é mais amplo e explicaria também a queda do nível de qualidade da programação das TVs e da produção cultural em geral?

As pesquisas mais recentes realizadas no campo da educação, por exemplo, demonstram que apesar de uma nova legislação, aliás, discutível, o nível e qualidade de ensino encontra-se em declínio. O chamado "Provão" acabou deixando ainda mais clara a nossa pobreza educacional, e os mecanismos de correção (?) criados pelo Governo resumem-se a emendas que só têm piorado o soneto.

No meio espírita a maioria dos leitores procura apenas romances para seu deleite nas horas vagas, deixando de lado o esforço de arranjar tempo e espaço para o estudo e reflexão de obras com conteúdo doutrinário consistente e para obras científicas e filosóficas que dariam um novo impulso à sua existência, além de explicar melhor a vida e o mundo através do desenvolvimento do espírito de crítica e da análise bem fundamentada.

Fora do meio espírita as coisas não acontecem de modo muito diferente. A literatura mística e esotérica tem encontrado bom número de leitores e os livros didáticos, por mais atraentes e bem redigidos que sejam, só são adquiridos por obrigação, quando são indicados – ou exigidos – pelos professores. No geral, os romances e livros esotéricos significam uma fuga à realidade ou puro entretenimento, a par de uma inegável possibilidade de reencantamento do mundo.

O fato é que a maioria das pessoas se sente tão perdida e vulnerável num mundo cada vez mais incerto, e por isso mais amedrontador, que a ignorância e a alienação voluntária tornou-se um refúgio seguro. Não saber é melhor para se viver, pois na medida em que aumenta o conhecimento, aumenta também o sofrimento, agravado por uma permanente sensação de impotência diante de tudo.

Um grave erro de avaliação, sempre e cada vez mais explorado por aqueles que têm o poder decisório em suas mãos (ou acreditam ter) por algum suposto privilégio de origem qualquer, seja de raça, classe ou casta.

A história mostra que são as minorias conscientes que dão rumos novos às sociedades, catalisando situações emocionais coletivas que desembocam em mudanças ou rupturas, transições pacíficas ou comoções sociais que podem levar a verdadeiros banhos de sangue, sempre explicados pelos políticos através das "razões de Estado", pelos economistas através das "crises econômicas" , pelos místicos e esotéricos como "fim de ciclos", pelos espiritualistas através da "vontade divina", pelos fundamentalistas pela "ira sagrada", "punição divina" ou "está escrito", pelos espíritas como "carma coletivo" ou pela ação das leis de Deus.

Seja como for, cada um de nós encontra uma explicação e uma justificativa para os acontecimentos, isentando-se de uma participação mais efetiva no rumo das coisas da vida, como se não fizéssemos parte de um imenso condomínio chamado Universo, no qual insere-se um condomínio menor chamado Terra, outro chamado nação, outro chamado estado, cidade e o próprio bairro onde moramos. Estamos todos ligados a tudo; interdependentes, interagentes e interatuantes.

Nesse contexto existencial, a alienação voluntária ou induzida, explorada ou provocada, a opção pela ignorância sobre as realidades da vida de relação, de nossas obrigações, direitos e deveres, de nossa realidade espiritual, significa um acréscimo de sofrimento e um retardamento da hora de sermos um pouco mais felizes, aqui mesmo e agora. O caminho é a ação coletiva, comunitária e solidária, para darmos uma nova rota à nossa vida pessoal e social, na Terra ou em outro lugar.

Texto retirado do site Panorama Espírita - www.panoramaespirita.com.br
Paulo R. Santos
CELESFA

Centro Espírita Luz da Esperança de São Francisco de Assis

1 Comentários

  1. Meu caro, sua reflexão é muito interessante, parabéns por sua postagem!!!

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