Pai, perdoa-lhes, eles não sabem o que fazem.”
As sociedades ocidentais carregam uma profunda relação com o sentimento de culpa. Encontramos sua raiz no Catolicismo Romano, na qual a morte de Cristo é de responsabilidade de todos, afinal, ele veio e nós e o matamos. A influência maciça da Igreja Católica, principalmente na Idade Média, contribuiu e ainda contribui para a formação subjetiva de milhares de pessoas.
“Por minha culpa, minha tão grande culpa "– (Ato Penitencial)
O espírito é imortal e a reencarnação permite que ele utilize o invólucro carnal quantas vezes forem necessárias para a sua evolução. Posto isso, é de se pensar que um sentimento tão forte como o da culpa acompanhe o espírito por várias encarnações, tanto pelo delito cometido quanto pela construção subjetiva que o espírito faz dele. Essa concepção do ato, a carga emocional que o espírito atribui, é mais importante do que o ato em si, pois ela determina o quanto o espírito vai se envolver para elaborar a situação. A ideia da morte de Cristo é consideravelmente simbólica nesse sentido, pois mesmo não tendo ligação direta com o ato, milhares de pessoas se percebem estruturalmente como pecadoras pela crucificação.
Ao compreendermos a imortalidade do espírito, a questão da culpa adquire proporções ainda maiores, e que nos ajudam a entender porque ela é um dos maiores objetos de estudo da Psicologia Moderna. Freud vai encontrar na culpa uma das bases estruturantes do psiquismo e da formação do Inconsciente. O complexo de Édipo, determinante para a construção da personalidade do sujeito, tem como ponto central o recalque, que é quando o sujeito reprime e “joga” para o Inconsciente as ideias incompatíveis com o eu. Porém, essas ideias continuam presentes no Inconsciente do sujeito, e com elas, a culpa por tê-las. E a forma como o sujeito vai lidar com isso poderá gerar sintomas e (muito) adoecimento.
Freud não conhecia o Espiritismo, mas suas teorias a respeito do Inconsciente contribuem bastante para entendermos os processos do Espírito. De certa forma, o que Freud chamou de Inconsciente -aquilo que existe no sujeito, faz parte dele, influencia diretamente sua vida, mas que ele não tem acesso direto- o Espiritismo pode chamar de memória da alma. Quando reencarnamos, recebemos o véu do esquecimento que não nos permite ter acesso ao que fomos em vidas anteriores, porém, nossa personalidade e nossa vida sofrem influência direta de nossos atos de outras épocas. E ela, a culpa, bem como a forma que lidamos com ela, está diretamente presente nisso.
O
que seria, afinal, a culpa? Em resumo, o sentimento de culpa (e aqui é
importante frisar que se trata do sentimento, e não do ato de culpa, que
cabe a Justiça e vem como penalização) é o sofrimento obtido após
reavaliação de um comportamento passado tido como reprovável por si
mesmo. A base deste sentimento, do ponto de vista psicanalítico, é a
frustração causada pela distância entre o que não fomos e a imagem
criada pelo superego daquilo que achamos que deveríamos ter sido.
É
na consciência que surge a culpa, mas essa não é necessariamente a
função da consciência. Ao percebermos que cometemos um erro, devíamos
passar diretamente para o estágio do arrependimento – a necessidade
íntima de corrigir o que foi feito, ou, se isso não for mais possível,
pelo menos compensar de alguma forma. Mas às vezes a consciência
estaciona no sentimento de culpa. O sentimento de culpa é o colapso da
consciência.
Muitas
pessoas acreditam que culpa e arrependimento são a mesma coisa, mas não
são. O arrependimento pressupõe ação, pois é o ímpeto de cometer ação
contrária à que ocasionou sua tristeza. O arrependimento é a dor sentida
pela dor causada. Por isso o arrependido desenvolve o firme propósito
de não repetir o erro, de reparar o dano causado ou de compensar o erro
com acertos. O espírito arrependido está em processo de autocura.É o
arrependimento que nos leva a nos comprometermos com o reajuste em
relação a outros espíritos. É o arrependimento que norteia os rumos
parcialmente traçados antes de nosso reencarne.
Mas para o espírito evoluir, só o arrependimento é suficiente?
No
livro "O Céu e o Inferno", Kardec nos diz que
Arrependimento, expiação e reparação são as três condições necessárias
para apagar os traços de uma falta e suas consequências. O
arrependimento suaviza as dores da expiação, abrindo pela esperança o
caminho da reabilitação; só a reparação, contudo, pode anular o efeito
destruindo-lhe a causa.
A expiação envolve o sofrimento pelo qual se expia uma falta cometida. Na expiação, o espírito vivencia aquele mal causado a outrem, de forma que através dessa experiência ele resgate a falta cometida e vivencie a dor que um dia infligira a alguém.Pode-se considerar como expiações as aflições que provocam queixas e impelem o homem à revolta contra Deus, explica "O Evangelho segundo o Espiritismo".
A expiação envolve o sofrimento pelo qual se expia uma falta cometida. Na expiação, o espírito vivencia aquele mal causado a outrem, de forma que através dessa experiência ele resgate a falta cometida e vivencie a dor que um dia infligira a alguém.Pode-se considerar como expiações as aflições que provocam queixas e impelem o homem à revolta contra Deus, explica "O Evangelho segundo o Espiritismo".
Joanna
de Ângelis conceitua que, na prova, matriculamo-nos na escola para
aprender, e que na expiação nos internamos no hospital para sofrer. E é
exatamente isso que acontece. O planeta tanto é um educandário, como
também um hospital, ambos sempre abertos para nos acolher. Emanuel
afirma que “a provação é a luta que
ensina ao discípulo rebelde e preguiçoso a estrada do trabalho e da
edificação espiritual. A expiação é a pena imposta ao malfeitor que
comete um crime”.
A
reparação consiste em fazer o bem a quem se havia feito o mal. Quem não
repara os seus erros nesta vida por fraqueza ou má vontade, achar-se-á
numa existência posterior em contato com as mesmas pessoas a quem
prejudicou, e em condições voluntariamente escolhidas, de modo a
demonstrar-lhes o seu devotamento, e fazer-lhes tanto bem quanto mal
lhes tenha feito, eluciada Allan Kardec em "O céu e o inferno".
Existe
um ponto fundamental nesse processo evolutivo: o auto perdão.
Conseguiremos o perdão do outro se nós mesmos não nos perdoamos pelo que
fizemos? Perdoar-nos é não nos apegarmos ao que fomos, pois a renovação
está no instante presente e o que importa é como somos agora e quais
são as determinações atuais para o nosso progresso espiritual.
Por isso Deus nos concede um novo dia, uma nova vida, um novo corpo: para recomeçarmos!