Neste texto, abordamos alguns tópicos do que atualmente a Ciência pesquisa sobre glândula pineal em importantes universidades no mundo, procurando correlacionar com os mitos erguidos pelo pensamento místico em torno do assunto.
Devemos lembrar que a pineal é uma glândula endócrina, e como toda glândula endócrina, a comunicação com o organismo é feita pelo sistema circulatório, através dos hormônios. também os estudos imagiológicos mais modernos que fazem mapeamento cerebral e correlações de anatomia e função, como a ressonância magnética de supercondutividade quântica ou demais métodos que se utilizam de injeção de contraste na Circulação no estudo das funções cerebrais, esses avanços tornam obrigatório o conhecimento da anatomia da circulação sanguínea local.
É sabido que no cérebro as áreas mais irrigadas, vascularizadas, estão ligadas as áreas de maior funcionamento neuronal. Ao observarmos a riquíssima rede circulatória da glândula pineal humana podemos inferir alto grau de função. Dentre outros motivos, esse fato nos faz pensar que a glândula pineal em humanos não é meramente um órgão vestigial, mas importante estrutura da anatomia e fisiologia do cérebro. Tal observação é reforçada por importantes descobertas da cronobiologia, ou seja, o núcleo supraquiasmático e a glândula pineal respondem pela função de "relógio biológico do corpo humano". Essa descoberta da fisiologia humana moderna nos fez pensar que a pineal esteja envolvida diretamente com o processo do desenvolvimento das fases da vida humana, daí em nosso projeto estarmos estudando desde o embrião até a pessoa idosa.
O nosso interesse sobre o assunto chega até o consultório psiquiátrico, pois a neurofisiologia faz hoje importantes correlações experimentais entre a cronobiologia e as moléstias depressivas e esquizofreniformes. Por exemplo, a depressão se correlaciona com um avanço de fase do sono REM associado ao despertar precoce, relacionando o "relógio biológico"- núcleo supraquiasmático -, a glândula pineal com a fisiologia psíquica. Nos casos esquizofreniforme são conhecidos os ciclos sazonais em que ocorre a reincidência do surto psicótico. Temos assim plenamente justificada a importância do estudo desta glândula. Ainda, abordamos os seguintes tópicos referentes ao assunto.
INCURSÕES NO REINO ANIMAL
A filogênese da glândula pineal tem um interessante trajeto dos peixes, até os mamíferos e os seres humanos. Inicialmente nos peixes a pineal funciona como um fato receptor. A cabeça do peixe é translúcida e a pineal é facilmente exposta à luz. Histológicamente vamos encontrar células retinianas caracterizando a função fotorreceptora. Na evolução a anfíbios e répteis, a pineal passa a somar à função fotorreceptora as possibilidades de trandução neuroendócrina. Já nos mamíferos, o papel da fotorrecepção é deixado exclusivamente aos olhos, que faz a sua ligação com a pineal na comunicação da mensagem luminosa através de vias neuronais adrenérgicas. No homem julgamos que, além da função neuroendrócrina, a pineal esteja relacionada aos mecanismos de percepção extra-sensorial estando ligada a desconhecidos processos da Neurofisiologia da Mediunidade.
ANATOMOFISIOLOGIA
A pineal vai se relacionar com as estruturas encefálias através de vias neuronais adrenérgicas, assim como através de sua função endrócrina - a produção do hormônio Melatonina. Sua função cronobiológica a liga, via núcleo supraquiasmático, aos sistemas reticulares ativadores ou inibidores das funções corticoscerebrais. Também, por ser uma estrutura epitalâmica - é chamada pelo sinônimo epífise - está ligada aos tálamos, estrutura pela qual passam as vias neuronais sensoriais, exceto o olfato. Em seu papel endócrino vai ter ligação com o eixo hipotálamo hipofisário, no comando de todas as funções glandulares do corpo.
São conhecidos experimentos que correlacionam a pineal com as funções da fisiologia sexual, com a função pancreática e com o sistema imunológico. A ligação funcional entre a pineal e glândulas sexuais é também importante campo para a neuropsicologia e a psiquiatria, pois inumeráveis patologias psíquicas se ligam a transtornos que envolvem a sexualidade. Este componente da sexualidade nos faz inferir uma atividade funcional da pineal com o sistema límbico.
HISTOFISIOLOGIA
A pineal possui células especializadas na produção hormonal, que são os pinealócitos. Também vamos encontrar neurônios, células da glia e o endotélio. As funções metabólicas dessas células estão ligadas à produção de microesferas de fosfato e carbonato de cálcio (entre outros elementos em menor concentração). Essas esferas são constituídas por camadas concêntricas (como uma cebola), e haverá tantas camadas quanto mais idade tiver a pessoa. A produção desses cristais não prejudica a função da pineal, mas é a representação de sua intensa atividade. Julgamos que esses cristais estão ligados a funções desconhecidas da estrutura biomagnética cerebral. Atualmente estamos investigando mais aprofundadamente esse assunto, através de estudos tomográficos e de microcospia eletrônica.
MELATONINA
A melatonina, hormônio produzido pelos pinealócitos, é altamente lopossolúvel. Com isso, consegue penetrar em todos os tecidos do corpo, já que a membrana plasmática de todas as nossas células é fosfolipídica. Essa alta penetrabilidade da melatonina lhe confere poderes de ação em múltiplas e inumeráveis funções de nossa fisiologia. Mas, cuidado, a propaganda e o comércio desse hormônio tem feito com que as pessoas se iludam com efeitos de cura não comprovados, podendo causar doenças como a conhecida atrofia dos testículos.
A melatonina é produzida a partir da serotonina, que é um neurotransmissor envolvido com infinitas funções neuropsicofisiológicas. À luz do dia temos um acúmulo de serotonina, e à noite vamos ter sua conversão em melatonina.
Assim, esse hormônio está em maior quantidade à noite ou a baixas incidências de luz ambiental. Será que há alguma correlação disso com as atividades mediúnicas que preferencialmente se realizam na penumbra?
RITMOS BIOLÓGICOS
Existe uma regência temporal de todas as funções do corpo humano. Sem essa coordenação no tempo não existe nem forma nem função. Dentro desse sistema temporal vamos ter diversos ritmos nos sistemas biológicos, quais sejam:
• ritmos circadianos - por exemplo, ciclo da vigília e sono, são os ciclos de um dia e estão relacionados à incidência luminosa dada pelo sol;
• ritmos ultradianos e infradianos - respectivamente ritmos de mais que um dia e menos que um dia, é o caso da produção de hormônios corticosteróides, hormônio de crescimento e muitos outros;
• ritmos mensais - obedecem ao mês lunar - por exemplo, o ciclo mentrual da mulher, também o desenvolvimento de anexos epidérmicos como cabelos e pêlos;
• ritmos anuais - seguem o ano lunar - a gravidez humana é exemplo clássico.
Assim temos, também, outros padrões rítmicos aqui não relatados. O comando dos ritmos biológicos do ser humano pode vir de fontes externas - chamados Zeitbergers exógenos, por exemplo o sol, a lua, o pólo magnético da Terra, a alimentação, as influências ambientais. Existem, também, comandos internos - Zeitbergers endógenos, por exemplo, estruturas genéticas. Ainda endógenamente, a mente humana pode alterar os ritmos biológicos. Assim, uma pessoa emocionalmente abalada por preocupações do trabalho ou desajustes familiares, pode alterar o ciclo de vigília e sono, não conseguindo dormir à noite, pode alterar seus ritmos hormonais promovendo um atraso menstrual e assim por diante.
Em nossa hipótese espiritista, consideramos que o espírito é Zeitberger endógeno predominante, tendo no sistema genético corporal elementos de predisposição biológica que responde às suas necessidades espirituais. Vale ressaltar que o complexo pineal numa visão descartiana representa o ponto de união do espírito ao corpo. Sendo o complexo pineal elemento anatômico que responde pela função tempo e sendo o tempo uma região dimensional no espaço - quarta dimensão há que se pensar na hipótese de que a ligação do espírito ao corpo em se dando através da quarta dimensão - dimensão espaço-tempo - tenha seu foco de ligação no "relógio biológico", o complexo pineal.
A LUZ
A partir do momento que, na evolução filogenética, a pineal perde a sua capacidade fotorreceptora transformando-se num órgão neuroendócrino, os olhos passam a responder pela função fotorreceptora. Vale dizer que a visão não vai somente estar ligada à percepção e cognição mas também se liga a funções neuroendócrinas cujo órgão efetor é a glândula pineal. A luz atinge a retina dos olhos havendo estimulação de vias nervosas que seguem o seguinte trajeto: núcleo supraquiasmático -área tuberal ventral hipotalâmica - área hipotalâmica lateral -asta intermédio lateral - gânglio simpático cervical superior -glândula pineal.
Esta é uma via adrenérgica, isso significa que a estimulação indireta da Pineal pela luz se dá através das vias citadas, pela adrenalina.
Maior incidência de luz - menor funcionamento da Pineal.
Menor incidência de luz - maior funcionamento da Pineal.
Se a Pineal é órgão da mediunidade, em hipótese, responda você: a manifestação mediúnica ocorre com mais facilidade de dia ou de noite? No claro ou no escuro? E a inspiração dos poetas, dos músicos, dos escritores, dos cientistas, ocorre com mais facilidade à luz do dia ou da noite? E as manifestações sensuais do namoro e do amor?
Julgamos que essas manifestações ocorrem com mais facilidade à noite porque a Pineal está funcionando mais. À noite há, portanto, uma tendência das pessoas meditarem, refletirem. Ao refletir numa vida atribulada de angústias, culpas, orgulho, egoísmo, o que seria um momento de reflexão acaba se configurando nos estados de depressão. Essa depressão pode se expressar em estados comportamentais ou manifestar-se subclinicamente como alterações cardiocirculatórias que levam ao infarto do miocárdio, às crises hipertensivas, aos acidentes vasculares cerebrais, que conhecidamente ocorrem na madrugada após uma noite de intensa agitação emocional manifesta nos órgãos.
A influência de padrões diversos de frequências luminosas - as cores - merece ser estudada observando-se os seguintes critérios:
1) A luz é uma entidade física que impressiona a neurofisiologia cerebral - tema tratado no texto acima.
2) Uma vez sendo percebida, a frequência luminosa passa a ser interpretada pela mente em um fenômeno que não é mais físico, mas sim psicológico, mental, simbólico. O simbolismo das cores promove também alterações psíquicas, emocionais, promove indução da memória, associação de fatos, os quais podem ser traduzidos em alterações psicossomáticas retornando à esfera física.
3) A não incidência de luz física mas o imaginar luz e cores como em inúmeros tratamentos alternativos cromoterápicos não pode ser confundido com os mecanismos neurofisiológicos acima colocados. É um outro campo de estudos que deve ser realizado com metodologia apropriada.
O MAGNETISMO
O cérebro é uma circuitaria elétrica complexa, passível de mensuração em milivoltagem. Também expressa intenso magnetismo, já que perpendicularmente ao afluxo elétrico temos o fluxo magnético. São conhecidos os aparelhos de imageologia médica, como a ressonância nuclear magnética, ou mesmo a tomografia, que captam os campos magnéticos do cérebro, reproduzindo a imagem. Mais particularmente iremos aqui tratar dos campos magnéticos que atingem o cérebro vindo do meio externo. Vale ressaltar que o magnetismo é uma força física como ímã. O que os espiritualistas e psiquistas chamam de magnetismo não é o mesmo ao qual estamos nos referindo.
O cérebro recebe influências dos campos magnéticos da Terra, do Sol, da Lua e dos diversos astros do universo que alcançam a superfície da Terra. Esses campos magnéticos têm ação norteadora da migração dos animais, mas no homem essa função está latente. A influência do magnetismo em nossa fisiologia é algo que merece estudos da ciência contemporânea. O cérebro capta o magnetismo externo conhecidamente através da glândula pineal. O mecanismo celular desse processo ainda é desconhecido.
O magnetismo mesmeriano corresponde às forças psíquicas e espirituais como nos passes espíritas, a água fluidificada, a água benta das igrejas, o processo de indução hipnótica, o mediunismo, enfim, envolve toda uma gama de energias não mensuráveis (ao menos no momento). Julgamos que essas energias não mensuráveis façam parte de um extremo desconhecido do espectro eletromagnético e que possivelmente tenha mecanismos de captação cerebrais ainda desconhecidos. Julgamos que a pineal seja o órgão captador dessas energias sutis, pois além de trabalhar com captação de campos magnéticos, se liga à função tempo dentro de seus mecanismos cronobiológicos. Esses elementos já são bastante sutis, e a seguir na mesma linha é possível que consiga captar também o magnetismo mesmeriano.
PSICOPATOLOGIA E GLÂNDULA PINEAL
Trabalharemos este tema segundo uma ótica kardeciana sem perder a lógica científica. A memória é um conjunto de informações que são estocadas no cérebro espacial e temporalmente. Assim, algumas regiões corticais e hipocampais estocam memória, mas a temporalidade da memória, se é passado, presente ou futuro, estaria no relógio biológico representado pelo complexo pineal. Aí o complexo pineal funcionaria como um túnel do tempo, fazendo com que os fatos presentes e passados tenham uma coerência com a vida biológica da atual encarnação da pessoa.
Elementos de memória de outras existências são bloqueados pelo túnel do complexo pineal. A menos que haja um processo patológico em que revivecências anímicas de outras existências consigam transpassar o túnel temporal do complexo pineal, perfazendo muitas vezes as manifestações psicóticas em complexos casos psiquiátricos. Também através de hipnose ou algumas técnicas de regressão de memória poderíamos alargar o túnel temporal do complexo pineal permitindo a afluência de memórias de vidas passadas.
Também as possibilidades de captação de energias sutis pela glândula pineal permitiriam que as energias envolvidas no processo mediúnico de boas ou más influências espirituais atingem a estrutura cerebral da pessoa transduzindo essas energias em patologias cerebrais orgânicas. A pineal serviu aí como um transdutor neuroendócrino e psico-espiritual.
GLÁNDULA PINEAL E O DUALISMO ESPÍRITO-MATÉRIA
0 fato de a pineal funcionar como um transdutor psiconeuroendócrino, a faz uma glândula muito especial. Assim como os olhos detêm a capacidade de captar imagem, os "ouvidos, o som, o tato, a geometria dos objetos, a pineal é um sensor capaz de "ver" o mundo espiritual e de coligá-lo com a estrutura biológica. É uma glândula portanto que "vive" o dualismo espirito-materia.
O eminente cientista Renée Descartes, como na introdução deste texto foi mencionado, foi o primeiro pensador a associar a glândula pineal com a visão dualista. O estudo dos mecanismos físicos envolvidos no funcionamento dessa glândula são excelentes modelos experimentais para o estudo da relação do mundo espiritual com o mundo material. Sem no entanto abordar essa questão glandular, o físico e professor da Universidade de Oxford, Roger Penrose publicou uma tese em que se utiliza do teorema de Godel para representar o ser humano como sendo uma tríade biológica, psicológica e espiritual. Vale dizer que esse eminente cientista é a representação de toda uma geração que tem feito renascer uma nova e criteriosa ciência, a ciência do espírito. Há mais de um século, Allan Kardec deu o start para esse fenômeno social e científico, retrato deste terceiro milénio.
Sergio Felipe de Oliveira
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CIPOLLA Neto, J. Controle Neural do Metabolismo da Glândula Pineal. (Tese de Livre-Docência - USP, 1996)
KANDELL, E.R. et al. Essential of Neural Science and Behavior. International Edition, 1995
KARDEC, A. A Codificação da Doutrina Espírita. Obras Comple¬tas, IDE, 1997
XAVIER, F.C. - (André Luiz). Missionários da Luz, São Paulo: FEB.