No pensamento do célebre escritor Tertuliano, "a única coisa que por vezes deseja a verdade é que não a condenem antes de conhecê-la". Infelizmente, não foi isso que aconteceu em Barcelona no já distante ano de 1861. Por perseguição do Santo Ofício e em nome da fé, trezentas obras espíritas foram queimadas em praça pública. Ao contrário do que pretendia a Igreja, o ato insano serviu de alavanca na divulgação do espiritismo. Esse evento, ocorrido há 146 anos, teve como denominação Auto-de-Fé de Barcelona.
Lachâtre, escritor e editor francês profundo admirador de Allan Kardec, o Codificador da Doutrina Espírita, solicitara dele certa quantidade de obras espíritas para expô-las à venda na livraria que instalara em Barcelona, capital da Catalunha. Na alfândega, as caixas de livros foram inspecionadas e quando a liberação estava prestes a ser dada, uma ordem superior a suspendeu, com a declaração de que se fazia necessário o consentimento expresso do bispo local, Antônio Palau Y Termens. Foi-lhe apresentado um exemplar de cada obra. Não precisou de muito tempo para que ele os considerasse perniciosos, logo ordenando que fossem lançados ao fogo, por serem "imorais e contrários a fé católica". De nada valeram as reclamações contra esta sentença em desacordo com as leis do país. Nem o reenvio dos livros para a França foi permitido. Foram confiscados pelo Santo Ofício, que tomou a si o poder absoluto de juiz e carrasco, sem sequer reembolsar o proprietário.
Na manhã de 9 de outubro de 1861, numa mistura de curiosos e assustados, cidadãos de Barcelona prepararam-se para assistir a incomum cerimônia ordenada pelo bispo Antônio Palau Y Termens: a queima das trezentas obras. Por volta das dez e meia, cercado de assessores, surge um padre em vestes sacerdotais. Numa das mãos uma tocha, na outra uma cruz. Após cumprir os rituais, o padre lança a tocha sobre a pilha de livros, que é devorada por violentas labaredas. Um pintor registra aquela cena em aquarela. Quando as chamas se apagam, a comitiva clerical se retira, sob as vaias da multidão e gritos de "-Abaixo a Inquisição!". Muitos se aproximam e recolhem algumas folhas não totalmente queimadas. O capitão Lagier, comandante do vapor El Monarca que a tudo assistia, exclama em voz alta: "-Eu vos trarei na próxima viagem todos os livros que quiserdes." E assim, através dos navios, muitas obras de Kardec entraram na Espanha.
Por ironia do destino, nove meses após o bispo desencarna e dias depois manifesta-se de forma inesperada e espontânea a um dos médiuns da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, deixando uma mensagem acerca do equívoco que cometera.
Os efeitos do Auto-de-Fé não demoraram. A atenção de muitos para o Espiritismo foi despertada. O fogo da intolerância não destruiu a verdade. Nada poderia ter sido mais útil ao Espiritismo, no dizer de Kardec. A perseguição foi vantajosa. Por aquele meio, exaltou-se a importância da idéia e a fez conhecida daqueles que a ignoravam.
Muito interessante... cada vez mais a espiritualidade está sendo divulgada e isso representa uma mudança de estado de consciencia na humanidade. Parabens
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