"Eleições 2018: uma opinião espírita"

Caríssimos espíritas, simpatizantes e demais curiosos que por acaso — ou não — chegaram até estas linhas, para começo de conversa, peço a gentileza de atentarem bem para os dizeres do título deste artigo, que faço saltar aos olhos que esta é meramente "uma" opinião espírita, de um espírita ainda imperfeito, não consistindo, portanto, um posicionamento formal da nossa amada doutrina — coisa que não me atreveria a fazer e que a ninguém mais o compete, visto que não há nem entre os encarnados qualquer entidade que lucidamente possa se julgar autorizado para tal intento.

E para aqueles que vieram previamente armados com a argumentação de que Espiritismo não deve se misturar com política, antecipo-me a convidá-los a lerem e estudarem em O Livro dos Espíritos o capítulo VII da Parte Terceira, e solucionarem a problemática de se cumprir a imposição de vivermos em sociedade sem uma organização política. Ademais, senão para contribuir com a formação do caráter das pessoas e o progresso do meio em que ele vive, para que serviria a Doutrina Espírita? Mera oblação? Ó, não! Isso não. Favor não confundir Espiritismo com igrejismo. Desta feita, seria falsa modéstia de nossa parte dizer que a revelação espírita é simplesmente importante, quando devemos afirmar, sem titubear, que ela é preponderante para o avanço de nossa sociedade, e sem a qual, patinaremos no solo da frieza humana, movidos pelo orgulho e pelo egoísmo oriundo de uma concepção puramente materialista. Sem a compreensão dos valores espirituais, que começa com os princípios da sobrevivência da alma e da lei de causa e efeito aplicada nas múltiplas existências corporais, como sair das mesquinharias da vida? Mas, tendo nossa visão ampliada pelos horizontes espirituais, podemos bem compreender o valor dos ensinamentos espíritas, como os contidos nessa simples questão:
Da necessidade que o homem tem de viver em sociedade, nascem nele obrigações especiais?“Sim, e a primeira de todas é a de respeitar os direitos de seus semelhantes. Aquele que respeitar esses direitos procederá sempre com justiça. Neste mundo, cada um usa de represálias, porque a maioria dos homens não pratica a lei de justiça. Essa a causa da perturbação e da confusão em que as sociedades humanas vivem. A vida social cede direitos e impõe deveres recíprocos.”
O Livro dos Espíritos, Allan Kardec - questão 877
Supondo termos satisfeito a questão da relação entre Espiritismo e Política, passemos a analisar o cenário nacional e a urgência de nos prepararmos para o pleito presidencial que se nos apresenta, tendo em mente que estamos tratando do destino de uma nação de mais de 200 milhões de encarnados, os quais têm lá suas relações outros tantos de Espíritos desencarnados, assim, diretamente ligados à nossa Pátria. Acrescento, tranquilizando a todos, ainda a título de preâmbulo, que, como convém, abstenho-me de aqui tomar partido de um ou outro Candidato. O enfoque não são os candidatos ou seus partidos, mas os conceitos dos valores que estão em jogo. Cada qual faça suas ponderações e decida livremente o seu voto. E aproveito para dar meu parecer absolutamente contrário a apelações que se tem visto nesses dias — especialmente nas redes sociais — de algo do tipo: "Os espíritas estão com fulano...", "O Espiritismo se declara a favor de cicrano..." etc. Isto, aliás, me deixa um tanto constrangido e perplexo como um confrade, um dito espírita, pode ter a fraqueza de comprometer toda uma comunidade a uma exposição dessas. Que cada qual se declare espírita e exponha seu voto, tudo bem, mas que ninguém se arrogue de representar a coletividade, e — pior ainda — distorça os fundamentos espíritas para se adequar e apoiar causas particulares e partidárias.


NOSSA REALIDADE POLÍTICA

Iremos às urnas no próximo dia 28 para concretizar a escolha do novo Presidente da República (em alguns Estados da Federação também será promovido o 2° turno da eleição para o cargo de Governador), tendo então dois candidatos que, embora tenham personalidades peculiares, um em relação ao outro, e apresentem distintas ideias para administrar o Brasil pelos próximos quatro anos, ambos fazem parte — já há um bom tempo — de um contexto político mais ou menos semelhante. Nenhum deles desembarcou de outro mundo há pouco tempo e tampouco detém algo sobre-humano, que o distancie do outro. Com isso, podemos aferir que, com todo o respeito aos dois postulantes, não estamos lidando com santidades (não podemos ter a inocência de supor que haja tantos Espíritos superiores encarnados no Brasil de prontidão para ocupar tais cargos. E ainda que houvesse, o sistema atual dificultaria muito para que a benignidade se efetivasse), nem demônios, de modo que em nada é conveniente concentrar total simpatia a nenhum dos dois perfis, nem total antipatia pelo adversário político. São eles dois meros humanos, tão mais ou menos falhos quanto este que escreve e o leitor.

Observando a plataforma partidária sobre as quais cada um dos candidatos se situou nessa corrida eleitoral, é improvável que para um cidadão razoavelmente lúcido haja uma opção completa. E falamos das teorias propostas em campanha, cientes de que, uma vez enfaixado o Presidente e tendo este se apossado do Palácio do Planalto, a execução dos projetos se condicionam a "n variáveis" — muito mais voláteis em países tão culturalmente pluralizados, como é o caso do nosso. Ou seja, na melhor das hipóteses, penso que estaremos votando naquele em que acreditamos o ser "menos pior". É o que temos para hoje.

Isso não impede, infelizmente, que haja fanáticos — em ambos os lados — com a infantil ideia de que "o meu candidato é perfeito" e, ao oposto, o "o meu adversário é a personificação de todo o mal na Terra", numa dicotomia esdrúxula e perigosa, tanto que, como jamais se viu em nosso país, as eleições atuais têm sido marcadas pela violência física — inclusive com um atentado à bala contra a caravana de um partido (veja aqui) e esfaqueamento de um concorrente em plena campanha (veja aqui), violência essa muito acirrada pela fartura de notícias falsas (fake news) propagadas na internet.


NÃO-IDENTIFICAÇÃO ABSOLUTA

Dentro dessa enxurrada de propagandas extremistas, disseminada por apoiadores das duas candidaturas, além de ofensas pessoais ao candidato concorrente e a seus eleitores, há que se destacar outro artifício nojento muito em voga que é o de estereotipar pejorativamente os "inimigos" (aqueles que votam na legenda oposta) por supostas posturas pessoais do seu candidato e a partir daí criar ideologias e associações com culturas e credos. Por exemplo: um lado acusa o outro de defender a pena de morte, e este revida com a tese de que aquele defende o aborto, donde temos os estereótipos "condenadores assassinos" e "abortistas".

Essas posturas são plausíveis na concorrência atual, dentro de certo contexto, sendo uma para cada lado. Bem, até aí, vá lá! O erro, todavia, está em associar todos os eleitores de uma determinada legenda a esse estereotipo e tomá-la num falso silogismo, por exemplo, aplicável a uma determinada religião. Digamos: "espíritas são contra isso (pena de morte — aborto), portanto, os espíritas não podem votar neste candidato".

Na falta de uma terceira via, lamentavelmente os espíritas se veem obrigados a votar ou no candidato que supostamente evoca a pena de morte ou no que supostamente evoca a descriminalização do aborto, sem que forçosamente esse espírita eleitor possa ser tachado de antiético e imoral, conforme os preceitos de nossa doutrina — que absolutamente não comuna com a pena de morte e nem com o aborto descriminado. Não há então necessariamente uma identificação total entre eleitor e presidenciável. Certamente, nos dois lados, há eleitores que consideram a possibilidade de legalização tanto da pena de morte quanto do aborto. Como dissemos, estamos por votar num apurado feito pelo "menos pior".


PELOS VALORES, NÃO POR PARTIDARISMO

Nessa apuração dos prós e contras das duas plataformas partidárias que concorrem à Presidência do Brasil, é prudente levarmos em consideração não qualquer paixão ou entusiasmo partidário, mas os valores. E por sermos espíritas — presumidamente cientes da natureza espiritual e dos valores frequentemente ignorados pelos que não têm o alcance do horizonte que o Espiritismo nos oferece —, temos que levar em conta não apenas as nossas necessidades imediatas, mas inclusive a sustentabilidade duradoura de um sistema que promova o melhor possível um equilíbrio das forças: operários e patrões, civis e militares, progresso econômico e ecologia, mérito individual e caridade coletiva etc,

Em nossos anseios políticos, não é prudente exigências imediatistas, mas termos em mente que nossas ações devem contemplar a manutenção e evolução de uma ordem e progresso contínuo, mesmo para as próximas gerações — independentemente se usufruiremos desses frutos em subsequentes reencarnações, muito embora seja isso bem plausível, como igualmente é plausível a ideia de que colhemos hoje os germens plantados em pretéritas existências, de modo que não podemos usar de vitimismos: não há inocentes rastejando sobre a terra.

Muitas teorias políticas, econômicas e sociais têm sido lançadas, ao longo do nosso processo civilizatório, envoltas das mais diversas intenções; formas de governo têm sido propostas por uns e questionadas por outros; experimentações variadas de modelos administrativos se contradizem ao redor do globo... Na corrida presidencial deste ano, contudo, tudo isso tem sido debatido muito superficialmente e, quase sempre, sob um pálio de pretensa e arrogante superioridade, sem o espírito de fraternidade, que deveria nortear todos, malgrado a diversidade de opiniões, em direção ao bem comum. Isso porque se ignora os valores espirituais. Se esses nobres se dispusessem a aliar às suas teorias uma boa dose de bondade, se eles tivessem a humildade de se abrirem para a inspiração superior, se, enfim, se valessem de uma nobreza e procurassem colocar acima de suas vaidades um espírito estadista, de servidão ao seu país, tudo seria menos complicado.

E é para isso que evocamos os nobres ensinamentos morais do Espiritismo: a fim de que eles guiem, ao menos, os eleitores espíritas para que exerçam sua cidadania — no voto e em todos os atos civis, os mais corriqueiros; para que semeemos, adubemos o solo, aparemos os joios e, finalmente, saibamos colher o trigo da sustentabilidade comum; para que despertemos nossas consciências no entorno da necessidade de uma educação política e convivência social.

Temos todos um grande compromisso com a messe do Senhor, sem o que o "reino de Deus" jamais virá a nós. Que cada eleitor não digite apenas um voto na urna, mas faça desse ato civil solene uma prece, sincera e bondosa, por um futuro melhor para esse departamento chamado Brasil, pertencente à grande escola evolutiva que é a Terra, da qual somos aprendizes do curso de espiritualização.

Ery Lopes
Portal Luz Espírita

Centro Espírita Luz da Esperança

Blog do Centro Espírita Luz da Esperança de São Francisco de Assis. Atendimentos a luz da doutrina de Allan Kardec, localizado em Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, Brasil.

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